sexta-feira, 20 de setembro de 2019

II ENCONTRO DE ROTAS QUILOMBOLAS DISCUTE DIREITOS DAS MULHERES NEGRAS

Foto de parte do público presente.

Estar em rotas significa trilhar um mesmo caminho, com objetivo e fé, em busca por direitos e liberdade. Assim como nossos ancestrais, representantes de diferentes comunidades tradicionais da Chapada Norte Diamantina, seguiram em rotas para a II Oficina do projeto "Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte", realizado no domingo 15/09 na Escola Clementina Rosa Santos, no Quilombo Coqueiro de Mirangaba/BA. 
Uniram-se com o objetivo de buscar conhecimento, trocar experiências, adquirir saberes, preservar tradições, bem como traçar novos caminhos para o fortalecimento das comunidades e da luta por reconhecimento, acesso às políticas públicas e aos direitos dos povos quilombolas, sobretudo das mulheres. 

O evento reuniu, além das 35 mulheres atendidas pelo projeto, lideranças comunitárias e políticas, homens, idosos e crianças de Coqueiro e comunidades vizinhas, e teve como tema geral “Direitos das Mulheres Negras e Quilombolas”.
A oficina foi mediada por Gildeane Mota e Andréa Magalhães, ambas militantes do Movimento de Mulheres de Jacobina-MMJ, com participação especial de Cristina Viana do Movimento Negro Unificado (MNU). Através de uma metodologia participativa, propuseram para as participantes expressarem suas experiências e dificuldades para acessar direitos básicos como emprego, atendimento à saúde, educação, assim como a sobrecarga de responsabilidades, o medo da violência, entre outros, decorrente do preconceito racial, do machismo e da desigualdade de gênero que estrutura a sociedade brasileira. 

No sentido de compreender os fatores que levaram a esta realidade, foram apresentados dados que mostram a desigualdade entre homens e mulheres, e que refletem na participação política, nos índices de desemprego da violência que mais atinge a população negra, entre outras questões abordadas.
“Foi muito importante a oficina, pois nos fortalece enquanto quilombos para buscar nossos direitos, para valorizar nossa cultura, e principalmente porque nos incentivou a conhecer mais sobre as doenças que mais atingem as mulheres negras, de como nos cuidar, além de outros temas e informações que tivemos”, destacou Lucineide, presidente da associação de Coqueiro.

Ao final, fizeram uma avaliação do encontro, destacando a importância das mulheres estarem conscientes de seus direitos, das políticas afirmativas já existentes e de permanecerem mobilizadas no sentido de garanti-las. "Aqui podemos refletir sobre nossa realidade e ver as desvantagens que ainda temos em relação aos homens, no trabalho, nas tarefas, na política, e até no salário, e que muitas vezes achamos que é normal. E não é. Para mudar isso precisamos ocupar nossos espaços", disse Josiane Santana.

No mesmo espaço, também aconteceu um momento de formação e integração com os homens que se faziam presentes, mediado por Cristina Viana, com o objetivo de sensibilizá-los sobre a desigualdade de gênero e discutir como o machismo prejudica homens e mulheres.
Além de ser um momento de formação, estes encontros proporcionam aprender com as experiências de cada comunidade. Ensinam na maneira como se organizam, o que produzem, como preservam seus costumes, religiosidade e tradições culturais. Em Coqueiro, destaca-se a experiência da escola quilombola que trabalha a educação contextualizada com a realidade local, ensinando as futuras gerações o respeito a diversidade, resgate das tradições, a história e memória do povo negro, e a preservação ambiental ao incentivar, por exemplo, o resgate de sementes crioulas e de arvores da flora regional e plantios diversos nas dependências da escola. 

O evento foi abrilhantado com apresentações culturais diversas, como o grupo de Dança Trimbalada de Coqueiro, capoeira, samba de roda, cordel. Dentre as apresentações, destaca-se a participação das crianças Nayara Silva e Ana Clara do Quilombo Erê, com música e dança afro, e Maria Crislaine de Coqueiro, recitando poesia. Contou ainda com feira orgânica e mostra de artesanatos produzidos por mulheres da localidade.


•》O PROJETO

Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte é uma promoção da Secretaria de Promoção da Igualde Racial (SEPROMI) do Governo do Estado da Bahia, através do Edital Década Afrodescendente 2015/2025, realizado pela Central das Organizações de Desenvolvimento Sustentável do Piemonte da Diamantina (CODEP),  em parceria com a Rede Quilombola da Chapada Norte.


Ascom/RQCN

*Confira mais fotos no Instagram e Facebook da Rede Quilombola Chapada Norte

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

COQUEIRO DE MIRANGABA RECEBE II ENCONTRO DAS ROTAS QUILOMBOLAS DE MULHERES NEGRAS

Samba de Roda de Coqueiros, Mirangaba/BA.

No Brasil, muitas localidades foram batizadas com nomes que remetem a sua paisagem natural, a exemplo da comunidade quilombola de Coqueiro, município de Mirangaba-BA, que recebeu este nome em homenagem a árvore do coco babaçu, abundante na região. Rica em belezas naturais e tradições culturais, o quilombo recebe neste domingo, 15/09, a II Oficina das Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte.

O povoado possui, aproximadamente, 1000 habitantes, que sobrevivem com economia de base na agricultura familiar, com cultivos diversos, como arroz e café e o próprio coco babaçu. entre. Foi certificada como quilombola em 2006, mas antes disso os moradores já reconheciam sua ancestralidade. Segundo relatos dos moradores, sua povoação teve início por volta de 1860, e até do extinto povoado de Canudos vieram fugitivos, encontrando nesse local abrigo e acolhimento para viver.
Analice, moradora da comunidade, tirando o palhar do arroz.
Coqueiro é o cenário perfeito para celebrar esse encontro, devido a maneira como se organizam, os costumes e a culinária, que remetem a identidade cultural africana. Destaca-se ainda pelos festejos de Santos Reis, Penitentes, Caruru e Samba de Roda, envolvendo pessoas de todas as idades.

Samba de Roda reúne pessoas de todas as idades.

Festa de Caruru de Cosme e Damião. 

Festa dos Penitentes.

Festejos e sincretismo religioso.
Na perspectiva de fortalecer a união solidária entre as comunidades tradicionais e promover o protagonismo sociopolítico das mulheres negras, Coqueiro recebe a segunda oficina do projeto Rotas Quilombolas de Mulheres Negras. Tendo como tema:DIREITOS DAS MULHERES NEGRAS E QUILOMBOLAS, trazendo questões como a Equidade racial; Divisão sexual do trabalho; Gênero, sexualidade e violência; Saúde, defesa e garantia dos direitos das mulheres negras; Conta ainda com apresentações culturais e oficina prática de Capoeira.
Ao final da formação, espera-se que as participantes sejam mais conscientes e aptas para a defesa individual e coletiva de seus direitos.


•》O PROJETO- Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte é uma promoção da Secretaria de Promoção da Igualde Racial (SEPROMI) do Governo do Estado da Bahia, através do Edital Década Afrodescendente 2015/2025, realizado pela Central das Organizações de Desenvolvimento Sustentável do Piemonte da Diamantina (CODEP),  em parceria com a Rede Quilombola da Chapada Norte.

*Fotos: Almacks Luiz
*Texto: Ascom RQCN

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

MULHERES NEGRAS REALIZAM PRIMEIRA OFICINA DE ROTAS QUILOMBOLAS DA CHAPADA NORTE

Samba de roda, tradição que resiste no Quilombo Barra II.

Aconteceu no domingo 01/09, no Quilombo Barra II, município de Morro do Chapéu/BA, a primeira oficina do projeto Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte. 
Ao som de vozes que ecoavam canções antigas, do toque do berimbau, do atabaque, do pandeiro, da ginga da capoeira e da energia das crianças, o evento promoveu o intercâmbio de experiências, a troca de saberes e resgate de tradições culturais.
Mulheres capoeiras do grupo de Capoeira Raízes Baiana.

Samba de roda.

Inicialmente, as/os participantes foram recebidas/os com a benção e o abraço caloroso de Dona Maria Souza, matriarca do quilombo, que em seu aconchegante lar, deu as boas-vindas servindo um café da manhã recheado de sabores da culinária local.

Matriarca D. Maria recebendo as/os participantes.

Sabores quilombolas no café da manhã.

Depois da acolhida, seguiram para a oficina formativa onde foram convidadas/os a fazer uma reflexão sobre Identidade, Autoafirmação e Resistência das Mulheres Negras, por meio de apresentações e dinâmicas, mediadas por Camila Oliveira e Valber da Gama.
Partindo de um olhar interior, questionadas sobre como se veem, se reconhecem, e suas próprias histórias, sonhos e objetivos, as mulheres ajudaram a traçar uma rota pela história da humanidade, na perspectiva de reconhecer a participação das mulheres negras e o legado dos povos afros, que a história eurocêntrica oficial não registrou e da qual muitas vezes se apropria culturalmente. 

Válber da Gama, educador ambiental e militante do movimento negro.

Camila Oliveira, pedagoga e pesquisadora de história e cultura indígenas.

"Aqui aprendemos outra parte da história do nosso povo, muita coisa não nos contaram. Por que os livros da escola não destacam sobre os heróis e heroínas negros e sua cultura? Muito de nossa história foi alterada e esquecida", disse a jovem Manuela, quilombola de Barra II. 
Manuela Oliveira, Jovem quilombola de Barra II.

Também foi contada a história de mulheres negras regionais, anônimas, e outras conhecidas, mas pouco lembradas, que se destacaram em diversas áreas (na música, na política, na literatura) no Brasil e no mundo, que contribuíram e continuam na luta por direitos e resistência negra, dentre elas Carolina Maria de Jesus, Chiquinha Gonzaga, Sueli Carneiro, entre outras. 

O encontro contou ainda com apresentação do grupo de Capoeira Raízes Baianas de Morro do Chapéu, oficina prática de dança afro com a professora de axé Edna Moreira, samba de roda com Mestre Badu do Quilombo Erê e Milton do Pandeiro do Barra II, declamação de poesia e hip hop com as crianças, dentre outras.
Edna Moreira, professora de dança afro.



Deny Mário, recita poesia.
Para Dona Maria Dalva, vice-presidente da RQCN, a oficina foi um momento de trocas de conhecimento, empoderamento das mulheres, celebração e retorno a ancestralidade, importante para o fortalecimento das comunidades. "Agradecemos a comunidade que nos recebeu tão bem, aos que estiveram presentes e também aos que acompanharam pelas redes sociais. Vamos continuar nessa união, nessa luta por reconhecimento de nossos direitos e nossa história e se preparem para a segunda oficina, dia 15/09 no Quilombo de Coqueiros em Mirangaba", convidou.


Maria Dalva, vice-presidente da RQCN.

Presenças

Estiveram presentes 35 mulheres representado as comunidades de Cambueiro de Capim Grosso; Lagedo, Palmeiras e Coqueiro de Mirangaba; Malhadinha de Dentro, Campestre, Alto Alegre, Bananeira, Grota do Brito de Jacobina; Alto do Capim de Quixabeira; Fumaça de Pindobaçu; Várzea da Porta e Bom Jardim de Caém, além das mulheres, homens, idosos e crianças moradores do Quilombo Barra II e das comunidades vizinhas, militantes de associações e movimentos sociais, representantes do poder legislativo de Morro do Chapéu e Jacobina, e de Claúdio Rodrigues da SEPROMI do Governo da Bahia.
Ao centro, Zilma Oliveira, presidente da Associação Comunitária de Barra II.

Sheila Cristina, vereadora de Morro do Chapéu fala sobre a necessidade das mulheres se unirem.

Vereador Júnior de Todos de Jacobina apresenta o Estatuto da Igualdade Racial.

Eliene, cozinheira quilombola de Barra II.
Ademailton, presidente da RQCN.

Mulheres utilizaram turbantes como símbolo da cultura afro.

Apreciação e compra de doces feitos pelas mulheres de Barra II.


Mulheres da comunidade anfitriã.

Grupo de Capoeira Raízes Baiana.
Claúdio Rodrigues da SEPROMI Gov./BA, parabeniza as mulheres pelo evento.

O projeto

 Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte é um projeto promovido pela Secretaria de Igualdade Racial (SEPROMI), do Governo do Estado da Bahia, através do Edital Década Afrodescendente 2015/2025, realizado pela CODEP em parceria com a Rede Quilombola Chapada Norte (RQCN), e apoio das entidades parceiras: Atabaque, MMJ, UNEB, FEPPAHJA e CODETER-TIPD e tem como objetivo promover o protagonismo político e socioeconômico de mulheres negras fortalecendo a rede solidária entre as comunidades tradicionais do território e na Chapada Diamantina Norte.

Foto coletiva ao final do evento.

*veja mais fotos no Album Oficina I na página do Facebook da RQCN


Texto e fotos: Ascom/RQCN