Foto de parte do público presente. |
Estar em rotas significa trilhar um mesmo caminho, com objetivo e fé, em busca por direitos e liberdade. Assim como nossos ancestrais, representantes de diferentes comunidades tradicionais da Chapada Norte Diamantina, seguiram em rotas para a II Oficina do projeto "Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte", realizado no domingo 15/09 na Escola Clementina Rosa Santos, no Quilombo Coqueiro de Mirangaba/BA.
Uniram-se com o objetivo de buscar conhecimento, trocar experiências, adquirir saberes, preservar tradições, bem como traçar novos caminhos para o fortalecimento das comunidades e da luta por reconhecimento, acesso às políticas públicas e aos direitos dos povos quilombolas, sobretudo das mulheres.
O evento reuniu, além das 35 mulheres atendidas pelo projeto, lideranças comunitárias e políticas, homens, idosos e crianças de Coqueiro e comunidades vizinhas, e teve como tema geral “Direitos das Mulheres Negras e Quilombolas”.
A oficina foi mediada por Gildeane Mota e Andréa Magalhães, ambas militantes do Movimento de Mulheres de Jacobina-MMJ, com participação especial de Cristina Viana do Movimento Negro Unificado (MNU). Através de uma metodologia participativa, propuseram para as participantes expressarem suas experiências e dificuldades para acessar direitos básicos como emprego, atendimento à saúde, educação, assim como a sobrecarga de responsabilidades, o medo da violência, entre outros, decorrente do preconceito racial, do machismo e da desigualdade de gênero que estrutura a sociedade brasileira.
No sentido de compreender os fatores que levaram a esta realidade, foram apresentados dados que mostram a desigualdade entre homens e mulheres, e que refletem na participação política, nos índices de desemprego da violência que mais atinge a população negra, entre outras questões abordadas.
“Foi muito importante a oficina, pois nos fortalece enquanto quilombos para buscar nossos direitos, para valorizar nossa cultura, e principalmente porque nos incentivou a conhecer mais sobre as doenças que mais atingem as mulheres negras, de como nos cuidar, além de outros temas e informações que tivemos”, destacou Lucineide, presidente da associação de Coqueiro.
Ao final, fizeram uma avaliação do encontro, destacando a importância das mulheres estarem conscientes de seus direitos, das políticas afirmativas já existentes e de permanecerem mobilizadas no sentido de garanti-las. "Aqui podemos refletir sobre nossa realidade e ver as desvantagens que ainda temos em relação aos homens, no trabalho, nas tarefas, na política, e até no salário, e que muitas vezes achamos que é normal. E não é. Para mudar isso precisamos ocupar nossos espaços", disse Josiane Santana.
No mesmo espaço, também aconteceu um momento de formação e integração com os homens que se faziam presentes, mediado por Cristina Viana, com o objetivo de sensibilizá-los sobre a desigualdade de gênero e discutir como o machismo prejudica homens e mulheres.
Além de ser um momento de formação, estes encontros proporcionam aprender com as experiências de cada comunidade. Ensinam na maneira como se organizam, o que produzem, como preservam seus costumes, religiosidade e tradições culturais. Em Coqueiro, destaca-se a experiência da escola quilombola que trabalha a educação contextualizada com a realidade local, ensinando as futuras gerações o respeito a diversidade, resgate das tradições, a história e memória do povo negro, e a preservação ambiental ao incentivar, por exemplo, o resgate de sementes crioulas e de arvores da flora regional e plantios diversos nas dependências da escola.
O evento foi abrilhantado com apresentações culturais diversas, como o grupo de Dança Trimbalada de Coqueiro, capoeira, samba de roda, cordel. Dentre as apresentações, destaca-se a participação das crianças Nayara Silva e Ana Clara do Quilombo Erê, com música e dança afro, e Maria Crislaine de Coqueiro, recitando poesia. Contou ainda com feira orgânica e mostra de artesanatos produzidos por mulheres da localidade.
•》O PROJETO
Rotas Quilombolas de Mulheres Negras da Chapada Norte é uma promoção da Secretaria de Promoção da Igualde Racial (SEPROMI) do Governo do Estado da Bahia, através do Edital Década Afrodescendente 2015/2025, realizado pela Central das Organizações de Desenvolvimento Sustentável do Piemonte da Diamantina (CODEP), em parceria com a Rede Quilombola da Chapada Norte.
Ascom/RQCN
*Confira mais fotos no Instagram e Facebook da Rede Quilombola Chapada Norte
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